terça-feira, 30 de dezembro de 2014

11º dia: de Irupana a Coroico



LUÍS:

Sim, eu sei que você não sabe onde ficam essas cidades que citei acima, Irupana e Coroico não estão, nem de longe, nos destinos tradicionais na Bolívia, seja para viajantes normais, seja para motociclistas que gostam de uma viagem mais off road.

Eu também não conhecia. E sabe como conheci? Aliás, sabe como decidi passar por aqui?

Entrei no mapa do google maps e tracei a rota mais curta entre Cochabamba e Coroico. Mas você pergunta, porque Coroico?

Bem, sabe aquele programa do canal Nat Geo que aparecem uns caminhões em desfiladeiros a milhares de metros de altura? Então, aquilo geralmente é no himalaia e fizeram uns episódios nos andes bolivianos. E eu fui descobrir onde era isso na Bolívia e achei a tal "carretera de la muerte" ou estrada da morte no nosso idioma.

Li alguns artigos e publicações na internet e achei essa tal estrada da morte. Vi fotos e achei que dava para encarar. Então tracei a rota, que seria de La Paz a Coroico, maior parte pela terra. Como não queria fazer ida e volta, tracei um caminho entre Cochabamba e Coroico e depois La Paz.

Bem, o GPS aceitou, brigou e reclamou um pouco, tentou fazer desvios, mas me trouxe na maior parte da rota.

Os últimos três dias foram formidáveis. Recapitulando um pouco, saímos de Cochabamba que fica em um vale e subimos até 4.500m de altitude mais ou menos. São montanhas gigantes na saída da cidade sentido oeste que eu não acreditei que subiria toda. De fato subimos.

Passada a primeira "parede", começamos a descer um pouco, para 3.500m, passando por inúmeros vales e escalando montanhas e desfiladeiros com belas imagens que você pode ver nos dois últimos posts.

Passamos pela cidade de Independência, a maior que achei por ali, e decidimos acampar pouco depois da cidade, a menos de 1km, no meio de uma subida, onde havia um trecho relativamente plano e gramado, excelente para dormir e com uma certa segurança, pois era perto de algumas casas e da "cidade".

Fizemos um camping rústico e tivemos um jantar nas panelinhas de camping com pães comprados na vila. Excelente.

Choveu de madrugada até de manhã. Desmontamos barraca e seguimos viagem. Esse segundo dia nos meio do nada foi foda... o GPS nos levava por um caminho que indicava a existência de uma ponte para atravessar um rio. Mas fomos descendo o vale e a ponte não existia, havia apenas as estacas no chão do rio e nada ligava estas estacas.

Como havia marcas de pneus na rota segui, pois certamente seria possível atravessar.

Levou uma hora para atravessar, como vocês podem ver no post anterior. Muita água, lama e  pedras dificultavam bastante. Subimos o vale e chegamos a um povoado, comemos 6 ovos mexidos feitos na nossa panelinha, enchemos a barriga, comprei 2 litros de gasolina e seguimos. Bota molhada, calça molhada, complicado...

Nosso destino seria então Irupana, onde haveria um posto de combustível. A história de abastecer está no post anterior, vocês podem ver.

Dormimos ali e no dia seguinte peguei novas informações de rota para Coroico, o destino deste dia que relato aqui.

Havia dois caminhos. Um mais direto, com um desvio no qual eu poderia me perder, e outro "normal" pela estrada principal. A intenção inicial era pegar o desvio, mas isso não foi possível, pois os locais próximos ao desvio me aconselharam a não fazer isso, pois o risco de me perder seria grande.

Resolvemos então seguir pelo caminho normal. Fomos de Irupana até Ponte Villa.

De Puente Villa até Coroico havia outros dois caminhos, um com parte em asfalto e outro somente em terra, que era quase 1h mais curto.
Como não soube identificar qual seria o caminho mais curto pela terra, segui pelo caminho mais batido, seguindo os carros e caminhões ao longo da estrada de terra, o que me levou a subir as montanhas meio à neblina e o frio, passando por vales com rios com uma correnteza absurda, parecia que a cada 50m de estrada havia uma cachoeira e o rio era uma corredeira só. Para quem faz caiaque isso deve ser o paraíso se não fosse o frio de 13º C.

Subimos, subimos... até chegar no asfalto.

Nossa, essa é a palavra: asfalto!

Há 3 dias não sabia o que era isso, a moto até estranhou, andou meio devagar hehehehe

Subimos mais um pouco até uns 3.500m de altitude e depois começamos a descer para um vale onde haveria um posto policial que me orientaria para subir mais um pouco, pela terra, até Coroico.

Enfim chegamos a Coroico, e após uma busca por 5 ou 6 hoteis com preço bom e wi-fi escolhemos o Jamachi, um hotel pequeno e que fomos muitíssimo bem atendidos pela família que é dona. É um casal e cunhado que trabalham aqui e cuidam da casa muito bem.

A dificuldade então seria jantar, pois aqui eles descansam na segunda-feira, poucas coisas abrem. A maioria dos restaurantes fecham. Estava morrendo de vontade de comer uma carne de verdade, pois não aguentava mais comer frango (pollo), até porque é quase sempre apimentado e isso me conduz ao banheiro incessantes vezes.
Achamos uma pizzaria. O complicado é que tudo se paga em dinheiro e lá se foram mais 170 bolivianos (mais caro que o hotel, que custou apenas 100 bolivianos).

Curioso que antes achamos um hotel baratinho por 25 bolivianos sem TV no quarto. Meu, acredita, é o equivalente a R$ 10,00. Mas não ficamos neste, não havia garagem, tampouco internet.

Comemos, tomamos cervejas locais e duas Coronas importadas (saiu salgado isso...coisa importada aqui é bem cara). Uma Corona (mexicana) long neck custou 30 bs, equivalente a R$ 12.

Barriga cheia, fomos dormir na cama de viúva (não é tão pequena como uma de solteiro nem tão grande quanto uma de casal), que inclusive era no padrão boliviano, ou seja, curta. Fiquei com os pés para fora!

Choveu a noite toda, então seria improvável andar no dia seguinte com a moto na estrada da morte.

É isso aí, voltamos à civilização!

Luciana:

Foi o primeiro dia light!
Sair de Irupana com destino a Coroico foi tranquilo! Andamos cerca de 100km nas montanhas e levou umas 6h apenas e só demorou tanto porque ficamos das 15h às 16h esperando arrumarem a estrada que tinha caído muita rocha e terra.
O trânsito estava bem intenso, muitos carros e ônibus indo para La Paz.
Foi um alívio chegar no asfalto mas uma pena não ter mais a vista das montanhas. Brotam muitas mini cachoeiras delas...lindo lindo! Aqui não falta água!

Nossa, mas tava frio ein! Estava de 2ª pele + jaqueta + corta vento e ainda estava com frio. Até agora só senti calor em Santa Cruz de la Sierra, no comecinho da viagem. Mas como diz o Luís, eu começo a sentir calor com 30 graus, então não sou uma boa referência! Rs

Chegando em Coroico notamos que já estávamos com pouco dinheiro, então procuramos um hotel barato mas com wifi. Só achamos um hotel e estava muito caro para o que procurávamos: 280 bolivianos/noite (uns 110 reais).
Encontramos muitos hostals baratinhos mas sem wifi e de repente enquanto saía de um, mirei do outro lado da rua um hostal com wifi!
Entrei e perguntei o preço, visitei o quarto e o banheiro compartilhado. Tudo simples mas muito organizadinho.
Fomos muito bem recebidos, o que pra mim vale muito!
Digo isso porque aqui na Bolívia da a impressão que as pessoas te fazem favores ao vender seus serviços! Isso pra mim é quase um absurdo, pois sou uma anfitriã nata! Amo receber as pessoas e sei que se tivesse uma pousada ou qlq negócio relacionado a isso me empenharia para ser inesquecível para meus clientes!

Bem, mas como tudo não se pode generalizar, ao sairmos da pizzaria paramos numa lojinha pra comprar bolo. Eu tava com desejo. Lá conhecemos a Sra. Lily, de 85 anos! Ela mesma faz os bolos e o seu famoso flan de leite há mais de 48 anos! Na parede da sua loja tem uma homenagem linda da família e dos netos, com várias fotos e declarações de amor.
Pelo pouco que conversamos com ela, pois sendo a primeira pessoa que nos deu sua total atenção e simpatia, ela é de fato muito amável e merecida de todo afeto!
Tem filhas que trabalharam no Brasil, netos brasileiros e todos estudados e fala com muito orgulho disso!
A noite fechou de forma perfeita!

Fomos para nossa caminha de viúva baixinha e dormimos o sono dos justos!

E para quem acha que só posso estar apaixonada pelo Luís por topar estar nessa mega aventura com ele, saibam que já faz 17 anos! hahahaha

Saudades de todos! beijos e fiquem com Deus!

Agora, fotos e comentários do Luís:

Logo que saímos de Irupana avistamos uma chuva no vale. Então vamos vestir nosso modelito de chuva! Veja só a ist minion toda amarelinha hehehehe


Paramos para um belo almoço de frango feito na parrilla no povoado de Chulumani.


Abaixo, pose para foto em uma das estradas pelas quais passamos. Estavam todas neste padrão. Penhascos sem guard rail, aliás, nem sabem o que é isso aqui neste país eu acho hehehe


Já viram alguém mascar chiclete e fazer bola dentro do capacete? Yes, she can.


Já que a estrada estava parada por conta da queda de uma barreira, onde ficamos uma hora, aproveitamos para comer uma manga que havia sido apanhada no dia anterior, escovar os dentes, tomar esse chá diferente que parece um suco e vem com uma fruta dentro... não deu pra fazer xixi, tinha muita gente ali.


Inacreditavelmente há uma placa na saída de Chulumani ehehehe, logo adiante era o asfalto.


No jantar, na pizzaria com decoração diferente...


Luciana e dona Lily, 84 anos de muita simpatia e atenção aos clientes, que viram amigos. Enquanto comemos e batemos papo, outras 8 pessoas chegaram ali atrás do "flan de leche" com canela. Uma iguaria de Corioco, que provavelmente se perderá quando essa senhora se for. Diz ainda que na época escolar as crianças saem da escola e vão até lá comer o flan, míseros 2 bolivianos, menos de R$ 1,00


Vovózinha gente boa! Luís gorduchito depois de comer pizza, tomar cervejas, comer bolo e o flan de leche especial. Não tinha como ficar sem...




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